Biossegurança e longevidade: a importância no processamento dos instrumentais

Autores: Profº. Me. Rafael Cury Cecato e Prof. Me. William de Souza Wiggers.

 

É unanimidade dentre os profissionais de saúde a importância do processamento dos instrumentais cirúrgicos utilizados no dia a dia de clínicas ou consultórios. Contudo, é estimado que no ano de 2019, cerca de 2.100 casos de infecções pós-cirúrgicas estão relacionados à contaminação dos instrumentais¹, como prova de falhas neste processo. Por sua extrema importância, tal argumento já seria sufi ciente para justificar a atenção, porém, a durabilidade e performance dos instrumentos também é diretamente ligada ao rigoroso cuidado durante este processo.

A Federação, através da ANVISA, determina normas específicas e padroniza o processo para mitigar a manutenção de micro-organismos nos instrumentos utilizados em cirurgias. Além disso, cada estado e município possui complementos² e estes devem ser pontos de atenção dos profissionais e equipe para que não haja desacordo com a legislação. Em se tratando de instrumentos cirúrgicos, por serem termo resistentes, deverão ser processados por ação física (vapor saturado sob pressão – autoclave).³

Abaixo segue um diagrama como resumo dos passos para tal processo:

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As brocas, chaves, adaptadores e demais instrumentos necessários para efetuar implantes dentários são ferramentas projetadas de modo a serem reutilizadas e não sofrerem alterações substanciais a cada ciclo de uso do produto. Entretanto, dependendo do modo como o profissional conduz as etapas de limpeza, secagem, inspeção e esterilização, estes instrumentos podem desenvolver um fenômeno conhecido como corrosão.

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Exemplo de brocas para implantes dentários oxidadas por processamento incorreto.

Aços inoxidáveis de alta performance são utilizados na fabricação destes instrumentos, contudo a “inoxidabilidade” do material poderá vir a sucumbir sob condições adversas, possibilitando a ocorrência da corrosão.

Esta se manifesta na maioria dos casos na forma de pequenos pontos, depressões avermelhadas, denominada de corrosão por “pitting”. A presença de resíduos do procedimento cirúrgico e do processo de lavação é a principal causa da ocorrência de corrosão em instrumentais cirúrgicos.⁴

Para que não haja dúvidas, visando aprimorar a biossegurança, assim como evitar que os instrumentos se danifiquem em função dos sequenciais ciclos de uso, uma atenção especial deverá ser prestada nas seguintes etapas de limpeza e esterilização:

 

PROTOCOLO PARA LIMPEZA E ESTERILIZAÇÃO DOS INSTRUMENTAIS CIRÚRGICOS

PRÉ-LAVAGEM

Inicialmente realize a desmontagem do instrumento, caso seja aplicável (no caso de uma catraca de torque, por exemplo). Utilize água potável, preferencialmente aquecida (30ºC – 40ºC), em um recipiente adequado. Adicione detergente neutro e enzimático (faça a diluição de acordo com as recomendações do fabricante) e promova a homogeneização da solução. Imerja os instrumentos completamente na solução pelo tempo recomendado pelo fabricante. A utilização de aparelhos (cubas) ultrassônicas são recomendadas, principalmente para aqueles instrumentos que possuem lúmen e/ou difícil acesso a todas as superfícies. A utilização de detergentes de cozinha não é recomendada e poderá provocar a corrosão dos instrumentais caso não seja eliminado totalmente o resíduo de detergente.

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LAVAGEM E ENXÁGUE

A etapa de lavagem e enxágue é uma das principais no procedimento de limpeza e esterilização. É nela que os resíduos sólidos e líquidos remanescentes no instrumento serão removidos. É importante que o profissional, utilizando uma esponja macia ou escova de nylon, friccione a superfície do instrumento, até a completa remoção das sujeiras e resíduos. Não utilize esponjas abrasivas (de aço) ou determinados produtos químicos (à base de ácido oxálico, álcool, hipoclorito, peróxido, abrasivos químicos ou com alto teor de cloro). Em seguida, deverá ser realizado um enxágue abundante em água corrente. É importante que o profissional se certifique de remover todo e qualquer resíduo químico das soluções utilizadas nas etapas anteriores. Resíduos de soro ou substâncias contendo cloro são muito prejudiciais e poderão inutilizar o instrumento após a etapa de esterilização, pois remanescem sobre a superfície. Não acumule instrumentos durante os processos de lavação, secagem e esterilização. O contato excessivo pode prejudicar o corte ou mesmo provocar amassamento dos instrumentais mais delicados.

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SECAGEM

É importante que o profissional seque muito bem os instrumentais com pano limpo, seco, absorvente e descartável. Se necessário, complemente a secagem com ar comprimido e/ou secadora. Jamais deixe os instrumentais secarem “ao natural”. Umidade também favorece manchamentos e oxidações. Prossiga aos passos seguintes apenas com instrumentais limpos e secos.

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INSPEÇÃO

Após a secagem, realize a inspeção visual da qualidade de lavação e secagem de cada instrumento. Caso sejam encontrados resíduos do procedimento cirúrgico ou de lavação, o instrumento deverá retornar à etapa de lavação. Estes resíduos de modo algum deverão estar presentes sobre a superfície do instrumento, sob pena de comprometer a biossegurança do procedimento e a longevidade do instrumental.

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EMPACOTAMENTO

Realoque adequadamente os instrumentais no estojo (garantindo antes que que estejam limpos e secos) e sele o conjunto com largura mínima de 6 mm. Atente-se aos padrões estabelecidos pela Agência Sanitária quanto aos materiais e padrões de selamento.

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ESTERILIZAÇÃO

A esterilização deve ser executada logo após a limpeza do instrumental.

Acomode o pacote na autoclave, sem excessos, de modo a assegurar o correto fluxo de vapor. Inicie o ciclo da autoclave de acordo com o protocolo para instrumentos cirúrgicos, sempre obedecendo as recomendações de uso preconizadas pelo fabricante da autoclave.

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Por fim, os instrumentais jamais devem ser deixados sujos (sangue, saliva) por tempo indeterminado, ou seja, devem ser processados imediatamente após seu uso (pelo menos até a etapa de inspeção), sob pena de sujeitá-los ao início de pontos de oxidação, mesmo imperceptíveis. É fundamental que todo o processo seja revisto constantemente e supervisionado pelo responsável técnico do consultório/clínica. Além disso, as normas estabelecidas pela ANVISA de âmbito nacional ou regional devem obrigatoriamente ser seguidas. Este artigo não substitui sua ciência e rigoroso cumprimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Secretaria da Saúde. Manual de processamento de produtos para Saúde – Diretoria de Enfermagem/COASIS/SAIS/SES. 2020.

2. Vosnes JS. Esterilização de Materiais Odontológicos. 2018.

3. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Serviços Odontológicos: Prevenção e Controle de Riscos. 2006.

4. Yamashita K, Miyabe S, Yamashita T, Kusuda K, Eba D, Tanaka K et al. Corrosion Generation and Cleaning Eff ect on Surgical Instruments with Attached
Radiofrequency Identifi cation Tags in Long-Term Usage. Surg Infect (Larchmt) 2019; 20: 665–671.

 

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